Ambiguidade ou polissemia?
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Aline Câmara

Ambiguidade ou polissemia?

Há alguns dias, fizemos um post no Instagram falando sobre ambiguidade na manchete de uma notícia. O post gerou várias reflexões, questionamentos e dúvidas, inclusive em mim! Por causa disso, conversei com a a professora Luciana Sanchez Mendes, produtora de conteúdo no perfil Gramatimemes e professora de Semântica na Universidade Federal Fluminense em Niterói. Nós trocamos muitas mensagens e áudios e o que compartilho neste post são algumas das informações e reflexões que trocamos nessa conversa que foi MUITO esclarecedora para mim. Espero que, ao final da leitura, você consiga responder (sem dúvidas!) à pergunta que dá título ao post.


Aproveito para agradecer a professora Luciana pela partilha incrível de conhecimento.


A ambiguidade, a homonímia e a polissemia estão sempre de mãos dadas

Quando a ambiguidade é lexical, ou seja, quando a duplicidade e/ou confusão de sentidos está relacionada ao uso de uma palavra, ela foi gerada/criada por um caso de homonímia ou polissemia.


Vamos começar pelo caso da homonímia - que acontece quando duas (ou mais) palavras têm grafias e/ou pronúncias idênticas, mas sentidos diferentes.


Na tirinha abaixo, a palavra "vendo" é um exemplo de homonímia, pois são duas palavras com grafias e pronúncias iguais, mas com sentidos diferentes e sem relação entre si. A palavra "vendo" pode ser tanto o verbo "ver" no gerúndio quanto a forma da primeira pessoa do singular do presente do indicativo do verbo “vender”. Por causa dessa homonímia, a ambiguidade foi gerada e houve certa falha de comunicação entre o Armandinho e o homem que conversa com ele.


E quando o duplo sentido é um caso de polissemia?

Primeiro, é importante diferenciar homonímia de polissemia. Temos um caso de homonímia quando duas (ou mais) palavras são escritas/pronunciadas da mesma forma, mas possuem significados diferentes não conectados entre si - essas palavras terem a mesma grafia/pronúncia trata-se de uma mera coincidência. É o caso do verbo "vendo" na tirinha: são dois verbos totalmente diferentes, sem nenhuma relação entre si, que por acaso tem a mesma grafia em uma de suas formas verbais.


Já no caso da polissemia, uma mesma e única palavra admite dois (ou mais) sentidos e há algum tipo de correlação entre eles. É o caso da palavra "português" no meme abaixo. Nesse caso, a palavra "português" pode significar tanto o nome de uma língua quanto o nome de um povo e ambos sentido estão relacionados - portanto, é uma palavra polissêmica.

A polissemia pode ter relação com o uso conotativo e intencional da língua, mas isso não é uma regra!

Muitos livros didáticos atribuem a intencionalidade do falante como uma característica da polissemia - uma palavra/expressão seria polissêmica, pois o falante criou esse duplo sentido de maneira intencional ao utilizá-la. No entanto, de acordo com manuais de Semântica e Linguística (e com a Luciana), isso nem sempre é verdade, pois a polissemia é uma característica lexical. Algumas palavras possuem mais de um significado e isso independe da intencionalidade do falante naquele momento de uso.


Recapitulando:

a ambiguidade lexical está sempre relacionada à homonímia ou à polissemia.


Mas existe um um outro tipo de ambiguidade...

Nem sempre a ambiguidade está relacionada ao duplo sentido de uma palavra, às vezes ela pode ser causada por um desarranjo sintático, como podemos ver na manchete a seguir.


Abaixo, compartilho a análise presente na legenda do post do Gramatimemes sobre essa manchete.

"Não tem nada nas palavras empregadas que envolve sentidos diferentes (veja que não é como 'banco', 'cálculo', etc.). O que está dando interpretações diferentes ali é o arranjo dos termos. A matéria fala de um lançamento de um livro em uma livraria. Mas esse 'em livraria de SP' é um adjunto e ele tem, vamos dizer assim, uma certa liberdade pra se agregar a outros termos. O falante gênio ali sabe bem disso e faz o quê? Claro, piadinha. Interpreta como se o adjunto dissesse respeito a 'morar sozinho'. Funcionou!"


Como diferenciar polissemia de homonímia?

A polissemia acontece quando uma única palavra possui dois (ou mais) sentidos/acepções diferentes - ao procurar uma palavra polissêmica no dicionário, você encontra uma única entrada e seus vários sentidos, que vão incluir tanto os sentidos denotativos quanto os conotativos. Veja abaixo a palavra "xadrez" - no dicionário, há apenas uma única entrada para essa palavra com seus múltiplos sentidos.


Já no caso da homonímia estamos falando de duas (ou mais) palavras diferentes com sentidos diferentes Vejamos o exemplo da palavra "manga". Se você procurar essa palavra no dicionário, irá encontrar 3 entradas diferentes, ou seja, são 3 palavras completamente diferentes que, por uma obra do acaso, são escritas/pronunciadas da mesma forma.

Não sei você, mas eu não conhecia esse terceiro significado de "manga"- o que é compreensível, pois é um sentido de origem regional do Norte e Nordeste e eu moro no Sudeste.


Em alguns casos de homonímia, pode acontecer dessas palavras pertencerem a classes diferentes, mas nem sempre isso acontece. A lógica é: toda vez que você está analisando palavras com grafia/pronúncia igual de classes diferentes, você está diante de um caso de homonímia, mas o inverso não é verdadeiro. A palavra "manga" é um bom exemplo: as 3 palavras são da mesma classe (substantivos) e, mesmo assim, são um caso de homonímia.


Recapitulando:

uma palavra polissêmica tem apenas uma única entrada no dicionário enquanto palavras homônimas têm duas ou mais entradas no dicionário.


A Luciana fez um vídeo no qual explica melhor a diferença entre polissemia e homonímia


Nos links abaixo, você pode consultar outros posts do Gramatimemes sobre o tema.


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