[resenha de livros para professores/as]
Acabei a leitura ontem e ainda estou tentando digerir "A vegetariana". Que obra impactante e dolorida. O enredo é muito diferente do que eu imaginava, mas muito bom e surpreendente.
O livro de Han Kang conta a história de Yeonghye, uma mulher absolutamente comum, sem nenhuma característica ou habilidade sobressalente. Ela não é bonita, não tem profissão, não chama atenção, não há nada que faça dela uma pessoa especial ou, pelo menos, útil. É dessa forma que o marido nos apresenta a esposa logo no início do livro. O enredo nos leva a crer que esse apagamento existencial é consequência de todas violências que ela sofreu: física, psicológica, sexual. É como se ela não existisse, até o dia em que resolveu não ceder mais à opressão e aos desejos alheios.
Outro apagamento da protagonista se dá pela construção da narrativa: a história é narrada por três personagens diferentes, mas nunca pela Yeonghye. Ela não tem voz, não tem o direito nem poder de falar de si e contar sua própria história. Ela só se coloca em 1ª pessoa por meio de relatos oníricos.
Depois de começar a ter pesadelos envolvendo sangue e mortes, Yeonghye decide parar de comer carne. Essa decisão, que já não causa tanto estranhamento no Brasil de 2020, vira um ato de rebeldia inaceitável no seio de sua família.
Mais violências surgem para colocar Yeonghye no seu lugar ao mesmo tempo em que ela trilha um caminho cada vez mais afastado de tudo aquilo que é carnal, numa tentativa de apagar sua própria existência enquanto carne e violência.
Inspirada no verso do poeta Yi Sang, “acho que os humanos deveriam ser plantas”, a autora cria essa narrativa de uma mulher que já cansou de ser carne - e a gente sabe o peso de nascer carne-mulher neste mundo - e escolhe se distanciar de toda humanidade, pois não há mais jeito.
"E por que não posso morrer?", ela pergunta à irmã mais velha, incapaz de respondê-la.
O primeiro capítulo começa com a narração do marido de Yeonghye e, já neste início, o choque, o horror e o estranhamento se instauram em quem lê o livro. Esse estranhamento se mantém até a última página - e mesmo para além dela.
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A VEGETARIANA
Han Kang
Lançado em 2018, 176 p.
Editora Todavia
“Eu tive um sonho”, diz Yeonghye, e desse sonho de sangue e escuros bosques nasce uma recusa radical: deixar de comer, cozinhar e servir carne. É o primeiro estágio de um desapego em três atos, um caminho muito particular de transcendência destrutiva que parece infectar todos à sua volta. A VEGETARIANA tem sido apontado como um dos livros mais importantes da ficção contemporânea. Uma história sobre rebelião, tabu, violência e erotismo escrita com a clareza atordoante das melhores e mais aterradoras fábulas. A tradução, diretamente do coreano, restitui o estranhamento do original.
Indicado para adultos
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