Neste post, compartilho com vocês uma resenha com minhas impressões de leitura do livro "A raiva não educa. A calma educa", da pedagoga Maya Eigenmann. Eu já acompanhava o perfil do Maya no instagram e gosto bastante das reflexões que ela propõe, por isso estava bem ansiosa para ler o seu livro.
Eu gostei do livro e achei uma leitura válida, me fez repensar algumas práticas de sala de aula, mas confesso que esperava mais conteúdo. O livro é pequeno e foi diagramado com fonte grande, muito espaçamento e folhas em branco, ou seja, ele é ainda menor do que me parece. Tem me irritado um pouco essa "moda" de lançar livros que, na verdade, parecem mais artigos ou capítulos - parece um pouco de ansiedade em lançar logo o material. De qualquer forma, recomendo a leitura.
Ressalto que é um livro voltado para pais e mães e não para professores, mas acredito que muitas das reflexões propostas por ela também valem para a sala de aula. Abaixo, compartilho com vocês algumas dessas reflexões.
Nós cobramos das crianças e adolescentes comportamentos que eles são incapazes de ter
Uma questão que Maya ressalta muito ao longo do livro é o fato do cérebro de crianças e adolescentes não estar totalmente desenvolvido, esse desenvolvimento só se completa aos 25 anos. Por isso, muitas vezes exigimos deles ações que eles não conseguem ter por uma limitação neurológica mesmo. Eles não vão conseguir agir com a calma, a racionalidade ou o respeito que esperamos simplesmente porque seu cérebro ainda não desenvolveu completamente essas habilidades. Nossas expectativas sobre o comportamento dos mais jovens são quase sempre irreais. Precisamos sair do nosso pedestal de adulto e tentar enxergar até onde crianças/adolescentes realmente conseguem ir.
Crianças e adolescentes precisam poder errar
Nós, adultos, precisamos lidar de maneira mais empática com os erros dos mais jovens. Maya ressalta que os humanos precisam vivenciar muitas experiências, o que inclui muitos erros, para desenvolver as habilidades necessárias para sua sobrevivência. Pensando nisso, punir ou castigar uma criança/adolescente sempre que ele erra vai criar nele(a) o medo de viver novas experiências novamente, vai gerar um bloqueio que irá impedi-lo(a) de crescer. A punição simplista não gera aprendizado, pelo contrário, impede que a criança experimente e cresça.
Somos mais empáticos com adultos do que com crianças
Essa é uma discussão que a Maya faz bastante no perfil dela e que mexe muito comigo: muitas vezes agimos com crianças/adolescentes de uma maneira que jamais agiríamos com um outro adulto. Somos mais exigentes, mais severos, mais duros.
A gente menospreza a criança ansiosa com as provas na escola, mas entende o adulto nervoso com o excesso de trabalho. A gente vê como positivo o choro de um adulto, pois estaria expressando seus sentimentos, mas vê como manha o choro da criança. A gente exige obediência cega e silenciosa dos mais jovens, enquanto valoriza adultos que se posicionam.
A autora propõe que a gente se faça duas perguntas ao lidar/falar com uma criança/adolescente, sobretudo em momentos de conflitos:
Eu faria ou falaria isso/assim com um(a) amigo(a) ou parceiro(a)?
Como eu me sentiria se um outro adulto me tratasse (ou falasse comigo) da maneira como estou falando com essa criança/adolescente?
As respostas a essas perguntas é, quase sempre, um momento de constrangimento.
As crianças e adolescentes têm o direito de contrariar
Maya diz que a maior dificuldade dos adultos ao estabelecer limites com os mais jovens não está nos limites em si, mas no que fazer quando as crianças/adolescentes não aceitam esses limites. Nós esperamos que eles aceitem tudo cegamente, sem discordar, sem combater, o que é uma expectativa irreal.
Assim como os adultos, as crianças e adolescentes têm "todo o direito de sentir tudo, de expressar tudo" e nosso papel "não é passar por cima do que ela sente ou querer limitar as suas ações" (p. 108). Como adultos - ou seja, seres humanos já desenvolvidos - temos o dever de estabelecer limites necessários para que a criança ou adolescente cresça num ambiente seguro e saudável, mas temos também que aprender a lidar com as reações que esses limites vão gerar. A criança tem o direito de não gostar de um limite e expressar seu descontentamento, o adulto deve ensiná-la a expressar esse sentimento de maneira respeitosa e a aprender a lidar com a frustração que esse limite vai causar nela. Não se trata de deixar a criança fazer o que quer, pelo contrário, mas de ajudá-la a lidar com seus próximos sentimentos e com os limites que a vida vai lhe impor - sempre.
O trabalho de Maya é muito importante, pois nos abre os olhos para o fato de que a nossa sociedade coloca o adulto como centro de tudo e trata os mais jovens - sobretudo as crianças - como seres humanos sem direitos, sem desejos, sem sentimentos próprios, que devem apenas nos obedecer "porque sim". E aprender a se colocar no lugar de uma criança, com certeza, é algo crucial para que o dia a dia de sala de aula seja respeitoso e acolhedor, capaz de criar um espaço onde reais aprendizagens possam acontecer.
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