Queria compartilhar com vocês a resenha de uma História em Quadrinhos (HQ) que li recentemente: "A diferença invisível", com roteiro de Julie Dachez, desenho de Mademoiselle Caroline e tradução de Renata Silveira. Até pouquíssimo tempo atrás, eu tinha uma visão bem limitada de HQ: achava que era coisa de criança (como as HQs da Turma da Mônica) ou coisa de super-herói (como as HQs da Marvel). Foi a leitura de "Persepólis", da Marjani Satrapi, que me abriu as portas pra este universo que eu desconhecia, com histórias complexas, sensíveis e tão humanas.
E assim é a história de "A diferença invisível". Ela é a autobiografia de Julie Dachez (chamada de Marguerite na história), uma jovem francesa que foi diagnosticada com um transtorno do espectro autista, mas especificamente a Síndrome de Asperger, apenas aos 27 anos de idade. A HQ conta um pouco sobre todas as dificuldades enfrentadas por ela no seu dia a dia, desde o sofrimento causado pelo barulho do escritório até sua grande dificuldade de socializar. Marguerite procurou diversos profissionais, como médicos e psicólogos, ao longo da vida e todo diziam que ela era "normal", o que aumentava ainda mais sua angústia e sua frustração por não conseguir se encaixar num mundo em que "gente normal" deve viver.
A história de Marguerite nos permite refletir e discutir temas como empatia e respeito às diferenças; além da importância de conhecermos nossos limites, respeitarmos quem somos e vivermos no mundo de acordo com aquilo que nos faz bem, mesmo que isso signifique se autoexcluir de espaços e eventos. Com certeza, é uma excelente história para ser lida na escola.
Além disso, a parte visual da HQ possibilita a interpretação de elementos visuais, como o uso das cores, e de figuras de linguagem, como onomatopeias - veja nas imagens abaixo. Também me chamou muita atenção o uso de eufemismo pelas pessoas que conviviam com Marguerite para insultá-la educadamente - o que obviamente é impossível, porque insulto e preconceito não deixam de ser insulto e preconceito só porque você foi educada(o), outra excelente discussão pra ser feita em sala de aula.
No final do livro, também encontramos um guia sobre autismo com muitas informações que podem ajudar no diagnóstico e na inclusão e respeito aos autistas. É um livro adequado para ser lido em todo Ensino Fundamental 2, faço apenas uma observação: na HQ, tem uma cena de beijo que achei OK e tem muita importância na história (achei bom avisar, embora não veja problemas).
Assista a um vídeo publicado pela editora.
Na seção PARA LER NA ESCOLA, você vai sempre encontrar resenhas de livros literários (também conhecidos como paradidáticos) que são adequados para ler com os alunos do Ensino Fundamental 2. Também haverá sugestões de atividades, exercícios e temas que podem ser trabalhados com os alunos e alunas durante a leitura.
A DIFERENÇA INVISÍVEL
Julie Dachez e Mademoiselle Caroline | tradução de Renata Silveira
Lançado em 2017, 192 p.
Editora Nemo
Marguerite tem 27 anos, e aparentemente nada a diferencia das outras pessoas. É bonita, vivaz e inteligente. Trabalha numa grande empresa e mora com o namorado. No entanto, ela é diferente. Marguerite se sente deslocada e luta todos os dias para manter as aparências. Sua rotina é sempre a mesma, e mudanças de hábito não são bem-vindas. Seu ambiente precisa ser um casulo. Ela se sente agredida pelos ruídos e pelo falatório incessante dos colegas. Cansada dessa situação, ela sai em busca de si mesma e descobre que tem um Transtorno do Espectro Autista – a síndrome de Asperger. Sua vida então se altera profundamente.
Indicado para: Ensino Fundamental 2
Temas: autismo, empatia, encontros com a diferença, inclusão de pessoas com deficiência, respeito à diversidade.