Nos últimos anos, tanto documentos oficiais quanto materiais pedagógicos têm deixado claro a importância de ensinarmos nossos alunos a interpretar, analisar e produzir textos multissemióticos, principalmente aqueles que circulam no ambiente digital. Multissemióticos são os textos com muitos elementos, como textos verbais, imagens, ícones, desenhos, vídeos etc.
O problema é que, muitas vezes, nós mesmos temos dificuldades de produzir esses textos ou, pior, não damos muita importância para a multissemiose nos materiais que produzimos para usar em sala de aula. Quem aqui nunca pensou que investir tempo na diagramação de uma lista de atividades ou no layout de um slide é perda de tempo, mas depois nós tentamos convencer os alunos que eles precisam aprender a produzir infográficos e gastar seu tempo com isso, porque os recursos visuais também importam. Se importam, então por que (quase) não usamos?
Eu tenho refletido muito sobre isso: de que maneira as minhas aulas e todo material que utilizo em sala contribuem para que os alunos entendam a importância (real e prática) de aprender a produzir textos multissemióticos? Eu sempre tentei investir um pouco na parte visual do meu trabalho, especialmente nas apresentações em slides, mas o desenvolvimento dessa habilidade é um processo lento e trabalhoso. Com o tempo fui melhorando, mas ainda tenho muito o que aprender. Recentemente, por ter criado este blog e um perfil profissional no instagram, comecei a buscar mais informações sobre o assunto e vou compartilhar com vocês um pouco do que já aprendi. As dicas que darei serão mais voltadas para a produção de slides, mas elas também são válidas para a elaboração de qualquer material pedagógico - até de provas.
Vejam esses slides, os dois primeiros são mais antigos e o terceiro eu fiz ano passado, conseguem perceber como o último é mais moderno e transmite mais profissionalismo?
1. Busque referência e inspiração no trabalho produzido por outros professores.
Nós não somos formados em designer ou publicidade, por isso não temos o conhecimento teórico sobre diagramação, combinação de cores e fontes, então a melhor maneira de criar uma identidade visual profissional e interessante é buscando inspiração em outros profissionais da área da educação. Pode ser algum professor da sua escola ou algum professor que tem um perfil nas redes sociais. Pode ser uma revista sobre educação ou até mesmo o livro didático que você utiliza - você já parou para analisar a maneira como o conteúdo do seu livro didático é organizado e quais recursos visuais foram utilizados?
Eu sigo alguns perfis de professores no instagram (a maioria dos EUA, pois os professores brasileiros ainda não investem muito nessa ferramenta divulgação) e aprendi muito com os materiais que esses professores produzem e compartilham. Siga meu perfil e pegue as indicações que faço por lá.
2. Utilize sites e ferramentas que podem facilitar ou agilizar seu trabalho.
Se você utiliza o Google Slides ou o Power Point já deve estar cansado daqueles layouts (modelos de slides) prontos que essas ferramentas oferecem: eles são meio ultrapassados, pouco atrativos e são usados por todo mundo. Por isso, o ideal é que você personalize seus layouts, o que pode ser meio difícil no começo, então se você quiser slides mais modernos e criativos, pode utilizar os modelos disponíveis nos sites abaixo:
Canva: Eu já indiquei esse site aqui no blog, ele é excelente para produzir diversos textos multissemióticos, de infográficos a cartazes, e também tem uma seção com modelos de apresentação de slides prontos e lindos. Você elabora seu slide no Canva e depois basta baixar o arquivo como "Apresentação do Microsoft Power Point".
Slides Go e Slides Carnival: ambos sites oferecem diversos layouts que você pode usar tanto no Google Slides quanto no Power Point. Basta escolher o seu layout preferido e fazer o download.
3. Menos é mais!
Se algumas apresentações de slides pecam pela monotonia, porque são aquele monte de tela branca com textos imensos em preto, outras podem pecar pelo excesso, seja de texto, de cores, de imagens ou de fontes.
Eu costumava fazer slides super coloridos e com várias fontes bonitinhas, mas estou aprendendo que um visual mais clean (limpo) é mais moderno, mais atrativo, mais profissional e mais simples de ser consumido - se seus slides têm recursos em excesso, você acaba chamando mais atenção para a diagramação do que para o conteúdo que está querendo transmitir. Então, ao elaborar sua próxima apresentação de slides, pense nisso:
Cada slide deve abordar um tópico específico. Por exemplo, se você estiver elaborando um slide de revisão de tipos de sujeito, não coloque exemplos dos 5 tipos de sujeito no mesmo slide, ao invés disso, faça um slide para cada sujeito.
Não exagere na quantidade de imagens. Os alunos adoram quando a gente insere imagens e memes que dialogam com a cultura digital que os adolescentes consomem, mas às vezes podemos perder a mão e deixar o slide visual demais. Então tente limitar o número de imagens - 1 ou 2 por slides no máximo? Isso vai depender muito do conteúdo, então não é fácil criar uma regra, mas tente não exagerar.
Veja abaixo dois slides que fazem parte da apresentação que uso nas aulas sobre o livro Frankenstein, neles eu usei a dica do "menos é mais" no conteúdo, nas imagens, nas cores (o padrão é roxo e laranja) e também nas fontes. Esses slides também são do ano passado - e eu vou usá-los por muitos anos ainda!
4. Pense na hora de escolher as fontes.
Escolha fontes que combinam entre si e limite o número de fontes diferentes. Eu achei alguns blogs que dão dicas de pares de fontes e isso tem me ajudado muito! Ao abrir os blogs, você verá que a maioria das fontes sugeridas são simples, mas nem por isso são monótonas.
Para criar diversidade com apenas duas fontes, você pode variar o tamanho, utilizar itálico ou negrito, escrever em caixa alta ou mudar a cor. Nos últimos slides que fiz, eu escolhi apenas 3 fontes: escolhi um dos pares indicados nesses blogs e uma terceira fonte manuscrita (ou lettering ou handwritting) que uso apenas pontualmente.
5. Crie uma paleta de cores.
Pense nas cores que irá utilizar nos slides e mantenha o mesmo padrão ao longo de toda a apresentaçao, isso cria uma identidade visual e deixa o material mais organizado. O ideal é escolher duas ou 3 cores que combinam entre si para usar em todos os slides. Existe um site incrível chamado Coolors que te ajuda a criar uma paleta com cores que combinam e inclusive mostra para você quais são as paletas mais usadas no momento.
Pode parecer que ter que planejar até as cores vai fazer você perder mais tempo e dará mais trabalho, mas é justamente o contrário: se você decide suas cores logo de início, não terá que parar para pensar e escolher uma cor a cada novo slide. O processo fica mais automático - o mesmo vale para a escolha das fontes.
Nos slides abaixo, da apresentação que uso nas aulas sobre o livro Cinderela Chinesa (tem post sobre ele aqui), eu escolhi duas cores e elas foram usadas ao longo de toda a apresentação - comecei pelo verde, que é a cor da capa do livro. O sistema de cores também ajuda a separar os slides de cada aula.
Você não vai aprender a produzir slides bonitos de uma hora para outra, é preciso investir seu tempo para desenvolver essa habilidade. No começo, eu levava muito tempo para fazer qualquer slide mixuruca, hoje esse processo é bem mais rápido, tanto para ter a ideia de diagramação do material quanto para executá-la.
Não veja esse tempo como "tempo perdido". Primeiro, porque um material bem elaborado poderá ser usado em outros anos e isso vai te poupar trabalho no futuro. Segundo, porque você verá o reflexo positivo disso nos seus alunos. Eles vão elogiar seus slides, vão dizer que ficou mais fácil revisar o conteúdo e, de quebra, ainda irão se inspirar no seu material quando tiverem que produzir seus próprios slides.
Para terminar, mais alguns exemplos. Todos os slides a seguir são sobre o mesmo conteúdo - regras de uso do hífen - os dois primeiros são mais antigos e os dois últimos eu elaborei nesta semana. Em breve, eu vou disponibilizar essa apresentação aqui no blog.